Até onde a racionalidade humana é realmente racional? A racionalidade humana é o que nos distingue dos demais animais e, de certa forma, nos traz uma sensação de superioridade e domínio sobre a natureza e os demais animais que consideramos “irracionais” e, portanto, nossos subservientes.
A razão nasce da lógica e da dúvida, pois é duvidando das coisas que tentamos encontrar aquilo que é mais verdadeiro e mais real. As plantas e os animais não possuem essa capacidade de duvidar e de questionar e, por isso, não usam o raciocínio, o pensamento, e não elaboram métodos científicos para entender as coisas que estão à sua volta.
Nós, humanos, por termos capacidade de pensar, calcular e raciocinar, podemos projetar o futuro e relembrar o passado, aprender com a história e desenvolver máquinas futuristas e, inclusive inteligência artificial.
Mas com toda nossa inteligência, nossa capacidade racional, a capacidade de projeções e lembrança de experiências, estamos caminhando para um desgaste na relação com o meio ambiente e sofrendo efeitos colaterais de nossas próprias ações e decisões humanas.
Ailton Krenak, que ganhou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras há pouco tempo, afirmou que “O Futuro é Ancestral”, dizendo que a sabedoria e a cultura tradicional dos povos indígenas são muito importantes para a construção de um futuro sustentável e equilibrado, já que os povos indígenas possuem uma relação profunda e respeitosa com a natureza.
Por outro lado, Miguel Nicolélis, neurocientista, fala sobre a diferença entre inteligência artificial e inteligência analógica, afirmando que a inteligência intuitiva e construída durante séculos e milênios, a analógica, pode ser mais completa e organizada que a inteligência baseada em dados e lógica digital.
Se pensarmos por essa perspectiva de Krenak e Nicolélis podemos perceber que a tecnologia orgânica que a biologia construiu durante milênios pode ser bem mais consistente do que a tecnologia cibernética que a racionalidade de hoje se vangloria de ter.
Na letra da música “Um Índio”, de Caetano Veloso, ele fala que depois de exterminada a última nação indígena virá um índio com a mais avançada das mais avançadas tecnologias, sugerindo que esse índio seria uma espécie de divindade voltando para trazer a paz.
Se Krenak, Nicolélis e Caetano pensaram a mesma coisa ou se, por uma coincidência, podemos dizer que há alguma lógica em seus pensamentos, podemos perceber que a cultura indígena pode não ser tão atrasada como é comum as pessoas determinarem. A cultura indígena seria o saldo de milênios de convivência pacífica entre o meio ambiente e a humanidade e os anciãos indígenas, aqueles que possuem o “espírito dos pássaros e das fontes de água límpidas” podem ser os professores que os cientistas estão precisando para transformar um pouco da Inteligência Digital e lógica em Inteligência Analógica e intuitiva, no caminho da harmonização da humanidade com o meio ambiente.