“Desinteresse programado”

"Por incrível que pareça, são aquelas pessoas que estão há longos anos na política que mais desestimulam os cidadãos a participarem."

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Felipe José dos Santos, advogado.

Se a política é tão ruim, por que ela ainda existe? Essa é uma pergunta bastante pertinente, que sempre volta a cada período eleitoral. Mas outras perguntas também ficam esperando respostas satisfatórias. Algumas delas indagam como tudo começou e por que as coisas estão do jeito que estão; outras delas questionam quem deveria se beneficiar da política e quem se aproveita, constantemente, dela.

Para quem entende um pouco sobre o funcionamento das instituições e como o poder funciona não é muito difícil perceber quem faz a detração da política e como é realizado o jogo daqueles que desdenham, mas querem comprar.

Muita gente fala mal da política e dos políticos. Poucos param para perceber que os maiores orçamentos, principalmente os dos pequenos municípios, estão nas prefeituras locais. É ali que está um dos maiores irradiadores econômicos das pequenas cidades. Das grandes nem se fala! Os orçamentos são milionários. O orçamento anual da cidade de São Paulo, para que tenhamos uma ideia, é de 118 bilhões de reais.

O cidadão comum é geralmente aconselhado a se afastar da política, sempre com o argumento de que a política é suja, que é um antro de corrupção e que os políticos são interesseiros, malandros e incompetentes. As pessoas de boa índole, geralmente, não querem participar dos jogos de poder, dos conchavos de interesses e das práticas sórdidas que são realizadas nos períodos eleitorais.

Com esses argumentos, uma grande parte da mídia acaba aumentando o distanciamento da população e fortalecendo a ideia de que os cidadãos não devem se interessar para entender melhor como as coisas funcionam. Como é um assunto denso, que envolve debates, convencimento e conhecimento de causa, a maioria das pessoas prefere se omitir.

Os políticos oportunistas, aproveitando a baixa moral das discussões, acaba por perceber uma margem de espaço para conquistar poder e fazer barganhas, trocando influência por cargos ou outros benefícios que ajudam a aumentar os índices de corrupção.

Por incrível que pareça, são aquelas pessoas que estão há longos anos na política que mais desestimulam os cidadãos a participarem. E auxiliados por uma mídia sensacionalista e pelo poder econômico que, geralmente, compra representatividade, acabam por deixar transparecer que não há solução e que o poder é e será sempre corrupto.

Tudo começou quando o povo precisava organizar a sociedade e criar mecanismos de administração pública baseada no interesse coletivo, mas hoje já existe uma distancia tão grande entre o povo e os administradores que já se criou uma divisão entre cidadãos e políticos, e qualquer um que diz que não é político possui mais reconhecimento do que alguém que possui realmente interesse na coletividade.

Enfim, se o povo não sabe para que serve a política, como vai colocar nas posições de poder alguém que saiba o que fazer com esse poder para atingir o interesse público? Se cada um entender que interferir no poder é importante, pode ser o começo para uma mudança onde passaremos a olhar mais para coisas prioritárias e fundamentais de nossas vidas.

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