Livre expressão para mentir

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Felipe José dos Santos, advogado.

O garoto propaganda do capital internacional e da extrema direita global continua com seu script de combatente da liberdade de expressão. O dono de uma plataforma de comunicação defendendo a “liberdade de expressão” parece algo meio estranho, até mesmo contraditório. As mídias tradicionais sempre foram favoráveis à “liberdade de expressão” desde que essa liberdade fosse a liberdade de falarem o que quisessem, escondendo tudo aquilo que não lhes interessava. O próprio Roberto Marinho falou em alto e bom tom que a Globo é o que é mais pelas notícias que não deu do que pelas que deu. Nas palavras dele mesmo: “O importante não é o que a Globo publica, mas o que ela não publica”.

Uma grande empresa jornalística, como a Globo, já sabia que é mais fácil ofuscar alguém por omitir seus grandes feitos e colocar outro em evidência, dando realce em seus pequenos feitos. Dessa forma, a mídia pode criar uma discrepância, uma diferença que iguala grandes feitos a pequenas ações quase insignificantes.
Isso se falarmos em mídia convencional, como televisão, rádio, jornais de grande circulação, sem falar nas “mídias sociais”, que atingem milhões de espectadores em poucos minutos e podem criar distorções bem maiores.

Essa semana Elon Musk falou uma barbaridade que está sendo interpretada como se fosse uma grande demonstração de inteligência, mas é a demonstração da desfaçatez e da dissimulação nos mesmos moldes do já falecido Roberto Marinho.
O bilionário afirmou que “a mentira se combate com a verdade e não com censura”. Ocorre que, quando a “paridade de armas” é desigual e quem está falando as mentiras tem um poder de fogo bem maior do que quem está falando a verdade, acontece aquilo que o Roberto Marinho afirmou, ganha quem sabe esconder mais e quem dá mais visibilidade para a sua versão dos fatos.

Quando Elon Musk diz que a mentira se combate com a verdade ele está certo, desde que a verdade tenha o mesmo tempo de exposição do que a mentira, pois já é antigo o ditado que afirma que “uma mentira dita várias vezes se torna verdade”. Quando as mentiras são ditas em grande escala a verdade não consegue contestá-la quando é dita individualmente, afinal foi isso que sempre aconteceu ao longo da história, em que grandes crimes da humanidade foram vendidos para o povo inocente como se fossem grandes conquistas ou grandes feitos heróicos.

São vários os exemplos por todo o globo terrestre, começando pela genocídio que os norteamericanos praticaram contra os indígenas, narrado como “A conquista do Oeste” e gerou inúmeros filmes e histórias de faroeste romantizando a mortandade de índios e o sadismo de um povo armado contra uma população honesta e inocente, até a “catequização dos indígenas brasileiros” pelos jesuítas, que descaracterizou a cultura e ajudou a domesticar a população nativa e hoje é vista como um grande favor civilizatório.

O que Elon Musk está dizendo e ninguém está escutando fica bem claro e pode ser reproduzido da seguinte forma: “Eu tenho o controle sobre as informações e posso dar mais importância para a mentira se ela for benéfica para mim. Já vocês, que querem combater a mentira, se virem como puderem, mas não impeçam meu direito de mentir, pois para mim ‘liberdade de expressão’ é falar e fazer aquilo que beneficia meu grupo extremista de direita e meus interesses econômicos”.

Como diz o conto, “a mentira é como abrir um travesseiro de penas em uma montanha ventosa; buscar a verdade é resgatar cada uma dessas penas, por todos os cantos que o vento as levou”. Elon Musk quer ter o direito de rasgar o travesseiro e colocar os outros a correrem atrás do prejuízo.

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