Costumamos citar a Bíblia como se ela fosse um único livro. No entanto, são dezenas de livros, que na contagem católica são 73, nos protestantes 66, nos ortodoxos 78 e nos judeus 39 livros. A palavra grega bíblia é um substantivo plural, que significa livros ou biblioteca.
São livros que começaram a ser escritos no ano 1000 antes de Cristo e se concluíram em torno do ano 100 depois de Cristo. É mais de um milênio de coletânea de diversos aspectos da vida de vários povos. Há livros históricos, de legislação, de liturgia e ritos, de orações e cantos, de profecias, de sabedoria popular, cartas e livros apocalíticos, todos escritos nos mais diversos estilos. Antes de ser escrito houve uma transmissão oral, que durou, em alguns livros, vários séculos e, em outros alguns anos. Foram escritos em hebraico e grego.
Não temos mais nenhum texto original. Tudo são cópias de cópias, feitas à mão, os manuscritos. Por isso é tão difícil a tradução, sendo possível escolher para a tradução manuscritos que tem diferenças entre si.
A importância dos textos bíblicos é inegável, independente do aspecto da fé e da religião. Harold Bloom, um dos mais importantes críticos literários de nosso tempo, considera que a Bíblia é uma vasta antologia da literatura de toda uma cultura. Podemos dizer que é uma obra, ou obras clássicas, da literatura do ocidente. Não conhecer os textos bíblicos é ter uma enorme lacuna cultural.
Para judeus e cristão ela é a Palavra de Deus. Nestes diversos textos, por trás das milhares de palavras escritas e depois traduzidas em centenas de línguas, está a Palavra de Deus, que ultrapassa o enunciado escrito, literal. Os textos foram inspirados por Deus e não ditados pelo Senhor. Os escritores mantiveram a autonomia de como escrever o que lhes era inspirado. Por isso há tantas interpretações da Bíblia, mas nenhuma interpretação esgota a Palavra de Deus. No passado se interpretou de um modo, hoje de outro e amanhã poderá haver mudanças interpretativas. O que não muda é que nela está o Deus que se revela e esta Revelação é a Palavra de Deus.
Os católicos dedicam setembro como o mês das Sagradas Escrituras, o mês da Bíblia. No dia 30 de setembro se comemora São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja. Ele era um homem de vasta cultura que viveu em Roma até 385 e depois, por três décadas, residiu na Terra Santa. Lá escreveu inúmeras obras. A mais conhecida foi a tradução dos textos bíblicos para o latim, que era a língua mais usada na época. Essa tradução é chamada de Vulgata, pois foi traduzida na língua do vulgo, ou seja, do povo. Ela serve como base para as traduções atuais.
Ler a Bíblia tem um duplo efeito positivo. Ajuda a conhecer a nossa cultura e alimenta a vida de fé para quem é cristão.