Argumento divino para os poderes terrenos

0

Antigamente, o principal método de justificar o uso da violência e assim infligir a lei do amor era reivindicar um direito divino para os governantes: czares, sultões, rajás, xás e outros chefes de Estado. Porém, quanto mais a humanidade vivia, mais fraca se tornava a crença nesse direito peculiar dado ao governante por Deus. Ela murchou da mesma maneira e quase simultaneamente no mundo cristão e no brâmane, assim como nas esferas budista e confucionista. Nos últimos tempos ela desapareceu de tal forma que não prevalece mais contra a compreensão razoável do homem e o verdadeiro sentimento religioso. As pessoas viam cada vez mais claramente, e agora a maioria vê de maneira nítida, a falta de sentido e a imortalidade de subordinar os outros às suas vontades, quando são obrigados a fazer o que é o contrário não apenas aos seus interesses, mas também ao seu senso moral. E assim, alguém poderia supor que, tendo perdido a confiança em qualquer autoridade religiosa para a crença em uma divindade de potentados de vários tipos, as pessoas tentariam se libertar da sujeição a ele. Os governantes, que eram considerados seres sobrenaturais, se beneficiaram por sujeitar os indivíduos, mas infelizmente não foram os únicos beneficiários. Como resultado da crença e durante o governo desses seres pseudodivinos, grupos cada vez maiores de pessoas se uniram e se estabeleceram ao redor deles, que sob a aparência de governo tiraram vantagem do povo. Quando o velho engodo de uma autoridade sobrenatural e designada por Deus diminui, a única preocupação desses homens passou a ser inventar uma nova enganação que tornasse possível manter o povo em servidão a um número limitado de governantes, como fez a enganação sucessora”.

Quem falou isso foi Tolstói, o grande romancista russo, quando trocava correspondências com outro grande nome da história, Mahatma Ghandi. Suas cartas foram compiladas em um livro que se chama a Arte da Comunicação não Violenta.

Essas palavras de Tolstói demonstram como ao longo da história as pessoas usaram a religião e as divindades para ludibriar, enganar e usar os crédulos para se beneficiarem de suas ingenuidades. Os governantes usavam o argumento de que eram “indicados” e “abençoados” por Deus, e que quem não aceitasse essa indicação estava se colocando contra Ele.

Os reis também tinham esse complexo de divindade. Eles eram conhecidos por terem o “sangue azul” e serem diferentes do povo comum, alegando que eram os únicos que tinham uma relação direta com as divindades. E por isso as igrejas atestavam sua herança divina.

Tudo uma grande enganação, tudo uma história de crendices para induzir uma massa de analfabetos e ingênuos a trabalharem e, inclusive, se matarem em nome de suas divindades. Cada vez que uma “autoridade religiosa” era desmascarada, uma nova autoridade ia sendo criada e, cada vez que isso acontecia essas autoridades religiosas iam sendo aperfeiçoadas e se tornando mais convincentes.

No começo, uma autoridade religiosa dizia que sabia decifrar o som do trovão; depois essas autoridades eram mais desenvolvidas e já passavam a conversar com os mortos; e, por fim, elas sabem até quantos mandamentos Deus tem para o homem e sabem, ainda, como as pessoas devem se comportar, o que devem dizer, fazer e como se relacionar uns com os outros. Mas em cada lugar que existe uma autoridade religiosa ela possui um código próprio de interpretar Deus e, por isso, muitas interpretações de divindades são completamente contraditórias entre si.

E é dessa contradição entre as divindades forjadas que geralmente nasce a guerra.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui