Brainets – Conexão Orgânica

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O livro “O verdadeiro Criador de Tudo”, de Miguel Nicolélis, traz uma interpretação interessante da evolução do cérebro humano e sua capacidade de interconexão de uns indivíduos com os outros.

Fazendo uma analogia com os macacos, Nicolélis demonstra que a evolução do tamanho do cérebro tem relação com a capacidade de comunicação dos animais em seus grupos sociais. Enquanto um chimpanzé tem capacidade de se relacionar com 50 indivíduos de sua espécie, um humano tem a capacidade de se relacionar com 150 indivíduos e o aumento do cérebro estaria diretamente relacionado com essa capacidade de interação.

Para conviver com 150 pessoas o cérebro humano tem que processar as informações que identificam cada uma dessas pessoas e esse acúmulo de informação seria uma das causas de desenvolvimento e aumento do córtex cerebral, segundo o estudo do antropólogo e psicólogo Robin Dunbar.

Os chimpanzés conseguem manter a agregação do grupo de indivíduos por gastarem cerca de 10% a 20% do tempo realizando a tarefa social de catar pequenos parasitas uns nos outros, pois essa ação coletiva libera endorfinas e sensações de prazer, além de servir como forma de proteção dos parasitas. Já os humanos possuem um mecanismo semelhante de agregação, mas para nós, em substituição ao ato de catar piolhos, se manifesta a capacidade linguística. “Em outras palavras, de acordo com Dunbar, ‘fofocar’ parece ser um dos hábitos mais populares da humanidade desde sempre”, diz Nicolélis. A comunicação ampliou em muito a capacidade de abstração humana e sua a capacidade de pensar e fazer projeções imaginárias.

A imaginação individual fez os humanos começarem a criar hipóteses individuais de interpretação do mundo e, com isso, conseguiram projetar ações coletivas de caça e de guerra, tornando-se aptos a repassar métodos e histórias para outras gerações.

Junto com essas histórias foram transmitidos, também, modelos de agir que vinham dando certo, fossem na produção de alimentos ou na reprodução de histórias, e esses modelos foram formando a “cultura” humana. A cultura é a capacidade de passar um acontecimento de um cérebro individual para diversos outros cérebros que formam uma coletividade.

Nicolélis fala que quando um grupo humano consegue compreender e receber esse conhecimento esse grupo passa a ter um “cérebro coletivo” que pode ser chamado de brainets humanas, uma espécie de rede de internet construída pelos cérebros daquele grupos.

As brainets seriam a capacidade humana de interligar os cérebros dos indivíduos em grupos, conectados pela capacidade de imaginação, de reflexão e de comunicação, favorecendo a transmissão de cultura e aumentando a capacidade de informação e processamento dessas informações, ao ponto de aumentar o tamanho do verdadeiro criador de tudo.

Na visão de Nicolélis, o verdadeiro criador de tudo é o cérebro, que consegue absorver o mundo exterior, refletir e criar, internamente, uma interpretação da realidade, para depois conectar essa realidade com a interpretação que os outros indivíduos também fazem do mundo. Quando todos entendem a mesma coisa está criada uma rede cerebral, uma brainet.

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