E Jesus Pegou o Chicote

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A ação de Jesus no Templo de Jerusalém na Semana da Páscoa judaica, a última que Jesus celebrou, é marcada por atos que causam perplexidade no leitor dos Evangelhos. Qual razão motivou o Senhor a fazer um chicote de cordas e expulsar animais, vendedores e cambistas do Templo?

Jesus, como um bom e zeloso judeu, considerava o Templo um dos lugares mais sagrados de Israel. Desde a sua infância se deslocava para Jerusalém onde realizava os ritos prescritos pela religião judaica. A bíblia nos recorda sua apresentação no Templo após o nascimento, a peregrinação com a família aos doze anos e o evento sobre o qual estamos refletindo. Ao encontrar o Templo cheio de atividades comerciais Ele se infla de uma “ira divina” e expulsa as pessoas com seus produtos comerciais que estão profanando a sacralidade daquele lugar.

Quando perguntaram com qual autoridade Jesus realiza tamanha proeza, respondeu que o Templo seria destruído e em três dias reerguido. A afirmação se refere a sua ressurreição e não ao edifício. O texto do Evangelho segue dizendo que Jesus conhece o ser humano por dentro. Isso significa que Jesus sabe quais são as necessidades humanas.

A reflexão que faço neste artigo é sobre a necessidade do sagrado em nossas vidas. Lugares, tempos e objetos sagrados são marcos referencias para podermos viver bem a nossa vida pessoal e social. No terceiro domingo do tempo de quaresma a Igreja católica lê junto com o Evangelho da expulsão do Templo o Livro do Êxodo, quando Moisés recebe os 10 mandamentos no monte Sinai. Os mandamentos são leis que se tornam um referencial sagrado para a vida do povo de Deus e que continua válido para nós cristãos. Eles são mais que uma obrigação externa, são uma força interior que impele para o justo. Sem referências se perde o rumo, há um desnorteamento.

Percebemos a perda de referenciais sagrados em nosso tempo e não a sua substituição. Uma pessoa que está em uma cama, mantida por aparelhos, sem possibilidade de retornar à normalidade da vida, deve ser mantida viva mesmo que isto exija tempo e recursos financeiros? Não seria melhor “concluir” esta vida? E o ser humano que está se desenvolvendo dentro de um útero, tem o direito a viver ou depende da vontade de outras pessoas? Em caso de endemias ou epidemias, devo me preocupar com a minha proteção ou sou responsável também pelas outras pessoas? E quanto a justiça social, cada um cuide somente da sua?

Jesus percebeu que o que estava em jogo no Templo não era somente uma questão religiosa, mesmo porque Jesus nunca separou a fé dos âmbitos e dimensões da vida pessoal e social. Pouco antes de chegar ao Templo, ao entrar em Jerusalém, Jesus chora por sua cidade, pois percebeu que ela havia se destruído. Não por forças externas, mas por si mesma. Ela perdera a razão de sua existência, ser o Povo Escolhido de Deus. A Cidade Santa deixou de ser Luz e modelo e se tornou como as outras, governada por interesses pessoais, corrupta, imoral, cheia de intrigas políticas e religiosas, injusta e incapaz de perceber a presença de Deus, e ouvir a sua Palavra e ver os sinais divinos.

O tempo de quaresma é uma oportunidade de olhar para nossa vida e nos perguntarmos quais são os referenciais em nossa vida. Se não houver vale a pena uma reorganização da nossa existência.

Alexander Mello Jaeger, Cônego da Paróquia de Tenente Portela/RS.

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