Exuberância Simbólica

"Não se fala aqui da exuberância artística da apresentação, mas da exuberância simbólica e da coragem na abordagem do tema tratado."

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Nessa sexta-feira, dia 8 de setembro, aconteceu aqui, em Tenente Portela, a Audiência Pública para a criação de um campus pluriétnico do IFFar em nosso Município. É quase desnecessário falar sobre a importância para a região da criação de um Instituto Federal de Ciência e Tecnologia, pois qualquer pessoa com um mínimo de coerência sabe que não se trata somente de recursos, de distribuição de renda, de valorização da região e da comunidade indígena, mas se trata, sobretudo, de conhecimento, organização social, distribuição de informações e qualificação das pessoas que habitam essa região.

A educação pública e gratuita é uma das melhores formas de praticar a justiça social, pois é através da instrumentalização dos indivíduos, com conhecimento crítico e técnicas laborais, que se consegue alçar esses indivíduos para um grau de dignidade maior e, junto com isso, elevar a qualidade de vida de toda a região. Não se trata somente de circulação de dinheiro, ou de qualificação técnica, mas principalmente de irradiação de conhecimento e de formação de espaço para a reflexão, o que por si só é produção de cidadania e desenvolvimento local. E tem outro ponto importantíssimo na construção dessa realidade que possibilite a instalação do IFFar na terra indígena: a valorização dos próprios povos indígenas, dando condições de qualificação, inserção e cidadania para uma enorme população que há muito vem sofrendo discriminação e falta de assistência em seus pleitos.

A apresentação realizada na abertura da Audiência Pública realizada pela Assembléia Legislativa deu o tom da revolução cultural que a informação e a cultura podem trazer, seja no quesito autoestima, seja no quesito cidadania.

Relatar o desrespeito sofrido pelos povos originários de forma contextualizada, demonstrando que a velha história de heróis conquistadores nada foi além de uma pilhagem material e uma colonização intelectual, é apenas o começo para que se tire o véu de uma realidade formatada em conceitos de dominação e imposição de cultura e coerção moral e religiosa.

A falta de respeito com a cultura e a subjetividade dos povos nativos ainda reverbera nas entranhas da nação e deixa rastros de discriminação, violência e prepotência das instituições contra os cidadãos e aqueles com menores condições sociais e intelectuais.

Quando os subalternos começam a entender que não são subalternos, mas que foram induzidos a essa condição, entramos em momentos de transformação e de reorganização. Sempre foi assim ao longo dos ciclos da história.

Eventualmente acontecem alguns clarões de elucidação do povo, como aconteceu na Roma antiga quando os plebeus se impuseram diante dos patrícios ou, posteriormente, quando os burgueses reagiram à nobreza. Hoje a sutileza das relações sociais esconde, um pouco, as diferenças e a má distribuição de renda e conhecimento. Por isso é tão difícil vermos demonstrações de “tomada de consciência” e de “percepção de cidadania”, como essa realizada na apresentação da abertura da audiência pública. Não se fala aqui da exuberância artística da apresentação, mas da exuberância simbólica e da coragem na abordagem do tema tratado.

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