Imagem distorcida

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Felipe José dos Santos, advogado.

Volta e meia e meia volta me lembro de algum ditado já consagrado pelo senso comum da historia. Um desses ditados que toda hora aparece é o que diz “o que é bom a gente mostra e o que é ruim a gente esconde”. Todos os cursos de marketing se baseiam na imagem que os produtos precisam representar para a clientela; é importante que a apresentação e a embalagem tenham qualidade e os produtos fiquem em lugares de realce nas prateleiras, enquanto eventuais deficiências desse mesmo produto são, se não escondidas, omitidas de apresentação.

Assim acontece conosco também. A tendência natural é a de que nos apresentemos com a melhor versão que temos de nós mesmos, pois afinal, nunca faltarão aqueles que procurarão e tentarão expor nossas deficiências. É, inclusive, parte de nosso instinto de sobrevivência a característica de nos tornarmos sociáveis e agradáveis para a coletividade. Queremos, na maioria da vezes, aparentar que somos amigos, confiáveis, serenos, divertidos e, principalmente, exitosos.

Agora com as mídias sociais ficou mais fácil criarmos avatares idealizados de nossa personalidade e por isso corremos o risco de criar uma distorção de nossas próprias imagens e exacerbarmos nossas qualidades para muito além daquilo que realmente somos.
Criar uma imagem muito distante de nossa própria realidade pode gerar desconfortos e inseguranças e desestabilizar nossa própria confiança íntima. Devemos ponderar quando estamos construindo ou vendendo uma imagem que podemos não conseguir sustentar.

É natural que, nessa lógica do “o que é bom a gente mostra e o que é ruim a gente esconde”, tenhamos a tendência de nos associarmos às imagens mais positivas que conseguirmos e passarmos a nos identificar, cada vez mais, com pessoas vencedoras, alegres, ricas e aventureiras, mesmo que na vida real não sejamos tão felizes assim.
Fazer um meio termo entre como desejamos ser vistos e como realmente somos pode ser uma alternativa para não criarmos um problema a longo prazo e uma angústia, nos obrigando a agir de acordo com a expectativa criada mas sem as condições. Podemos nos frustrar quando tivermos que contar para as pessoas que acreditam naquela imagem fantasiosa que não somos tudo aquilo e que aquela imagem é, na verdade, o que gostaríamos de ser e não o que realmente somos.

Esse choque de realidade é um dos problemas da atualidade, já que as pessoas, de tanto criar uma imagem fictícia de si, acabam acreditando que são mais do que realmente conseguem ser. Dessa situação surgem a depressão, a baixa estima e uma sensação pessoal de que aquela pessoa exitosa e vencedora não passava de uma fraude, uma imagem vazia.

O grande perigo de criarmos uma distorção muito positiva de nossa própria imagem está em termos que admitir que, na realidade, somos seres normais e cheios de defeitos naturais e humanos.

Felipe José dos Santos, advogado.

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