O limite do infinito humano

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Cônego Alexander Mello Jaeger

Algum tempo atrás escutei uma entrevista com humoristas brasileiros, dela participou Renato Aragão, O Didi dos Trapalhões. Uma das perguntas feitas pelo moderador foi se havia limite para o humor, ou seja, se alguns temas não deveriam ser objeto de humor. As respostas foram variadas. Para alguns há temas que precisam ser respeitados, como foi a posição do Didi. Outros pensam que qualquer situação pode ser usada como material para o humor, para o sarcasmo, para a diversão, para zoar, como se diz.

Esta entrevista me retornou à memória, pelos acontecidos nos últimos dias, em relação àquele fato no Rio de Janeiro quando a sobrinha tentou conseguir um empréstimo no banco levando consigo o tio já falecido em uma cadeira de rodas. Este fato por si só já trágico, revestido de nuances patológicas, tem uma densidade de seriedade que deve ser respeitada. Acontecimentos como esses precisam ser vistos com um cuidado maior, pois não pertencem à cotidianidade constituindo-se em uma excepcionalidade. Este fato é passível de interpretações variadas, até que se esclareça o que aconteceu. Não deveria ser objeto de humor. Infelizmente alguns dias depois humoristas e empresas começaram a utilizaram este acontecimento como conteúdo de humor, para despertar o riso ou vender produtos. Aqui faltou o respeito humano.

No dia 8 deste mês de abril, o dicastério da Congregação da Fé, da Igreja católica, com o aval do Papa Francisco publicou um documento chamado Dignitas infinita, em português, dignidade infinita. Esse texto retoma o ensino da Igreja católica, a sua doutrina, em relação à dignidade da pessoa humana. O Documento afirma que a dignidade é intrínseca a todo e qualquer ser humano. Ela existe além das circunstâncias ou situação que a pessoa esteja vivendo. Todo ser humano tem dignidade, pelo fato de existir. Há dignidade desde a concepção, durante toda a sua vida, no ato de morrer e depois da morte.

Ausência de limites não significa Liberdade. Para que alguém tivesse uma Liberdade infinita, ele deveria ser infinito, sem encontrar nenhum limite em sua existência. Somente Deus tem este atributo. Na vida humana todos são limitados, ao corpo, a uma família, há uma comunidade, a um contexto social. Ninguém vive sem ar, sem alimentação, sem descanso. Existem condições mínimas para sobreviver. É um equívoco, revestido de arrogância, pensar que não exista limites.

Passando agora para a primeira pessoa gramatical, os outros me limitam, determinam até onde eu posso chegar. A minha dignidade é a mesma que o outro possui. Essa dignidade infinita que tenho intrinsecamente, torna-se finita, delimitada, na relação, quando eu encontro o outro. O outro podem ser pessoas como podem ser situações, circunstâncias ou acontecimento.

Fazer humor sobre uma circunstância trágica fere a dignidade humana, desconhecer condições humanas desfavoráveis como as doenças, a pobreza, a portabilidade de necessidades especiais e agir como se essas realidades não existissem violenta a dignidade humana. Viver num mundo pretensamente perfeito, em uma realidade fechada em si mesma aniquila a dignidade humana. O infinito do ser humano tem limites.

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