Perdas salariais dos fiscais agropecuários passam de 62% em dez anos

Estimativa é de levantamento do Dieese com base na inflação acumulada entre 1º de novembro de 2014 a 30 de abril de 2024.

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Monitoramento da cigarrinha no milho. (Foto de Leoncio Batista)

Sul 21 – As perdas salariais dos fiscais estaduais agropecuários do Rio Grande do Sul chegam a 62,3% nos últimos dez anos. A estimativa é de levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base na inflação acumulada (IPCA/IBGE) no período de 1 de novembro de 2014 a 30 de abril de 2024. O dado considera a revisão geral de 6% concedida pelo governo do Estado em 2022 aos servidores do Poder Executivo.

“Apesar de realizarem uma atividade essencial para o Estado, este é o triste cenário que vivenciam os fiscais estaduais agropecuários. Estamos em todas as linhas de frente do agronegócio gaúcho, desde a pandemia até as enchentes. O que falta para o governo do Estado valorizar a categoria?”, questiona o vice-presidente da Associação dos Fiscais Agropecuários do RS (Afagro), Giuliano Suzin. O dirigente recorda que os 6% concedidos há dois anos foram “engolidos” com o aumento da alíquota do IPE Saúde.

Considerando a alimentação, a perda do poder de compra é ainda mais significativa para os servidores. Em maio deste ano, a cesta básica completa do Dieese custou R$ 801,45 – alta de 234% em relação a novembro de 2014, quando o valor da mesma cesta era de R$ 342,62 segundo estudo do departamento.

Desde 2014, o salário base dos fiscais estaduais agropecuários é o mesmo – R$ 3.370,02. Além da defasagem, é um valor que fica cada vez mais abaixo dos salários mínimos previstos para as profissões. O piso dos engenheiros agrônomos e dos engenheiros florestais é R$ 12.002 (8,5 salários mínimos) e o dos médicos veterinários é R$ 17.650 (12,5 salários mínimos).

Na outra ponta, a produção agropecuária gaúcha permanece valorizada e, historicamente, impulsionando a economia com altas acima da média nacional. A categoria dos fiscais agropecuários atua para a evolução e manutenção do status sanitário de livre de febre aftosa sem vacinação e o controle da deriva do 2,4-D, entre dezenas de outras atividades. Além de contribuírem para a abertura de novos mercados para exportação, os servidores da fiscalização agropecuária estão em constante vigilância para evitar a entrada da influenza aviária nas granjas comerciais e a chegada do greening aos pomares de citros do Estado.

A fiscal estadual agropecuária Aline Lima de Souza, diretora da Afagro, ressalta que a defasagem dos salários resultou em consideráveis perdas de servidores qualificados nos últimos dez anos. “Agora, após o desastre ambiental, que condicionará os gastos por parte do governo, iremos observar ainda mais evasão de colegas caso não ocorra a tão esperada reestruturação de carreiras proposta pelo Estado”, alerta a dirigente.

Em meio a esse panorama nada animador para o funcionalismo, nesta terça-feira (25) comemorou-se o Dia do Fiscal Estadual Agropecuário, data instituída pela Assembleia Legislativa do RS em 2014, exatamente no mesmo ano em que o governo do Estado concedeu o último reajuste. Apesar de terem a responsabilidade de assegurar a sanidade e a qualidade das lavouras e dos rebanhos, desenvolvendo uma atividade essencial para o Estado, os servidores da categoria não têm motivos adicionais para celebrar a data.

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