Pós-democracia

"A pós-democracia é, de certa forma, o direito que o poder econômico adquiriu em comprar barato o caro direito que os cidadãos possuem."

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Felipe José dos Santos, advogado.

Os cientistas políticos andam falando que a democracia está entrando em declínio e que a democracia representativa está perdendo poder para um novo tipo de forma de interferência e condução das instituições e dos próprios governos.
As pessoas já não estão mais muito preocupadas como está sendo distribuído o poder, e tampouco estão conscientes de quanto poder possuem e como devem fazer para que seus desejos sejam atendidos pelos governantes.
Na verdade está ficando muito complexo o processo democrático. Existem muitas instituições, muitas regras e muitas pessoas que determinam a vida em sociedade, enquanto a maioria da população não sabe de onde vem essas regras e nem quem deu o poder para essas pessoas que disciplinam a vida coletiva.
Esse problema de falta de compreensão está acabando com a democracia, ela está se deteriorando e derretendo como um iceberg que descola da Antártida. Além dessa falta de compreensão e da complexidade do processo que envolve as decisões democráticas existe uma outra situação que está ficando cada vez mais evidente e não pode ser escondida. Essa outra situação aparece quando fica evidente que o poder econômico está literalmente comprando o poder político e interferindo nas decisões dos governos, determinando o que os países devem fazer com seus orçamentos e definindo quais políticas públicas ou privadas são melhores para a população.
Essa interferência está criando um novo conceito que já é chamado de pós-democracia. Pós-democracia é tudo aquilo que é feito com as instituições democráticas através da usurpação do poder político dos povos.
Mas como acontece essa usurpação? Essa usurpação é realizada quando o poder econômico, de grandes conglomerados empresariais, consegue cooptar os políticos para votarem ou interferirem na legislação das nações, sempre fazendo uma influência em favor dos interesses desses grandes conglomerados e contra o interesse das soberanias nacionais. Os conglomerados econômicos acabam por fazer suas próprias regras e passam a convencer os governos a agirem de acordo com os seus princípios.
Quando algum governo se opõe a essas regras esses conglomerados começam a interferir internamente, agem de forma sorrateira, comprando parlamentares (eles dizem financiando) para que defendam seus interesses externos contra os interesses da nação. Nunca falta um candidato que precise desses “financiamentos”, para se vender e aplicar o projeto dos interesses externos e comprar briga contra os interesses do próprio país.
A pós-democracia passa a se configurar quando as instituições já não trabalham mais em defesa da Constituição de um país. Mas quando aquele país começa a duvidar até mesmo de suas próprias regras, nesse momento se abre espaço para que os conglomerados econômicos passem a influenciar a população com uma bateria de “desinformação” fazendo essa população acreditar que o que é bom para os conglomerados econômicos é bom para o povo, e que os conglomerados econômicos ou “o mercado” são mais eficientes do que os governos.
A pós-democracia é, de certa forma, o direito que o poder econômico adquiriu em comprar barato o caro direito que os cidadãos possuem.

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