Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram

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Cônego Alexander Mello Jaeger

Quando se ordena alguém padre é costume que ele escolha um lema que vai orientar o seu Ministério Sacerdotal. Para minha ordenação escolhi uma frase retirada da carta de São Paulo aos romanos capítulo 12. Este capítulo é muito preciso na vida espiritual e também dá orientações práticas para o seguimento a Jesus, ou seja, para viver a fé. O meu lema é “alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram”, que se encontra no versículo 15 do capítulo 12 desta carta. Quando fui ordenado era um tempo em que acreditávamos na transformação do mundo e que ela seria fácil porque o ser humano tenderia sempre a escolher o melhor, por isso nos empenhávamos tanto na transformação da realidade. O tempo nos mostrou que a humanidade não é assim. São Paulo tem razão quando diz que em cada um de nós permanece a hybris do pecado, o velho Adão muitas vezes suplanta o novo Cristo e se escolhe o que não é o bem e se faz o mal.

Vivemos sempre nesta dualidade, duas realidades que coexistem, diante das quais fazemos as escolhas. Alguns momentos essa dualidade se transforma em dualismo e daí iniciam-se os combates entre um e outro, os antagonismos, as polarizações que impedem o desenvolvimento, o crescimento, a melhoria, o que para nós cristãos, chama-se santidade.

Estamos vivendo um momento em nossa sociedade gaúcha, no qual percebemos claramente essa dualidade. Ao lado de alguns golpes para tirar vantagem da desgraça, é impressionante como cresce a solidariedade, mostrando que dentro dos seres humanos permanece essa capacidade de se compadecer com o sofrimento das outras pessoas e ajudá-las, mobilizando-se, doando o próprio tempo e bens materiais, rezando por essas pessoas e sofrendo com elas. Nossa paróquia católica experimenta isso pela grande quantidade de voluntários e doações que já atingiram diretamente as pessoas necessitadas pela agilidade e organização.

Vivi alguns anos na Europa e visitei muitas cidades que durante a segunda grande guerra mundial foram praticamente aniquiladas. Os habitantes ouviam as sirenes e se protegiam nos bunkers subterrâneos e ouviam as bombas que caiam e detonavam, sentido o tremor da terra. Quando minutos ou horas depois saíam dos bunkers encontravam suas casas, suas cidades, suas vidas destruídas, arrasadas vendo tudo rente ao chão. Era necessário reerguer-se, na maioria das vezes, começar do nada, do zero. Quando olhamos algumas décadas depois estas cidades, percebemos que foi possível reergue-las. Muitos dos antigos habitantes, agora já anciãos, testemunhavam que muita coisa melhorou. Foi necessário um empenho conjunto, de cada um pessoalmente e também de uma organização estrutural social, política, econômica, seguindo o rígido planejamento.

O Rio Grande do sul experimenta uma guerra com um inimigo que não pode ser combatido na sua origem, mas que é possível organizar-se antecipadamente para sofrer menos consequências. Já alguns anos que a ciência vem alertando das mudanças climáticas que nossa região vai continuar sofrendo e é necessário nos prepararmos para isso, para que as perdas sejam as menores possíveis, especialmente quando falamos de vidas humanas. É louvável todas as iniciativas que estamos experimentando na ajuda às pessoas atingidas por essa catástrofe climática, algumas são muito próximas a nós, outras distante geograficamente, podem estar ligadas a nós por parentescos, por afinidade ou simplesmente por sermos seres humanos.

Para nós cristãos, pesa muito mais o fato de sermos todos irmãos e irmãs, que em cada pessoa que sofre, Cristo está presente de uma forma mais densa, mais intensa. O que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que estais fazendo, isso é o que Jesus nos diz e isso deve ser o grande motivo para sermos não só solidários, mas irmãos e irmãs uns dos outros neste momento.

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