Cem anos do Martírio

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Cônego Alexander Mello Jaeger

No dia 21 de maio estaremos comemorando 100 anos do martírio do padre Manuel Gomez Gonzalez e do coroinha Adílo Daronch. Eles foram mortos em Três Passos, no local chamado Feijão Miúdo, onde há um Santuário e se celebrará sua Memória. A vida desses personagens se mistura com a história da Europa, do Brasil e do Rio Grande do Sul. Por isso eles são tão significativos, tanto para a fé como para o conhecimento da história gaúcha.

Manuel nasceu à meia-noite no dia 29 de maio de 1877 na província de Pontevedra na Espanha, sendo batizado no dia seguinte. Depois de ter tido uma infância tranquila dividida entre estudos, lazer e educação cristã, decidiu se tornar padre e procurou o seminário da sua diocese de Tuy.

Padre Manoel teve muitas dificuldades na sua vida. Para conseguir entrar do seminário precisou trabalhar anteriormente, pois não tinha dinheiro suficiente para permanecer internado. Naquele tempo havia muitas vocações na Espanha e por isso o seminário era pago. Por um tempo estudou como aluno externo e depois ingressou no seminário e ali permaneceu até ser ordenado padre. Seus primeiros trabalhos na Espanha foram tranquilos até que iniciou a revolução espanhola que atacou diretamente a Igreja. Muitos padres foram mortos. Foi trabalhar na diocese de Braga em Portugal. Por algum tempo as coisas correram bem, depois a mesma realidade da Espanha aconteceu em Portugal e ele teve que fugir e veio para o Brasil. O Rio de Janeiro estava com uma presença muito grande de padres fugidos destes conflitos. Por indicação de um dos bispos auxiliares do Rio de Janeiro veio trabalhar na recém criada diocese de Santa Maria, Rio Grande do Sul.

Trabalhou primeiramente em Soledade e depois fui transferido para Nonoai. Uma paróquia enorme territorialmente, mas muito pobre em todos os sentidos, inclusive na formação cristã. Iniciou o seu Ministério como pároco com muitas dificuldades, pouco a pouco foi conquistando o respeito do povo e ajudando aquela comunidade não só na dimensão religiosa, como a catequese, o acompanhamento dos fiéis no Sacramentos, dos doentes, pregação sólida, mas colaborando no desenvolvimento de toda a vida social. Transformou a sala da sua casa em uma escola, ensinou novas técnicas agrícolas, como por exemplo a plantação de arroz, criou uma olaria produzindo telhas e tijolos, construiu casas para as pessoas sem condições financeiras.

Ali conheceu Adílio Daronch, um jovem que foi seu aluno e seu catequizando que o servia nas missas como coroinha. Aos 15 anos começou a acompanhar o padre nas suas viagens, pois Padre Manuel tinha sido nomeado também pároco de Palmeira das Missões. Adílo nasceu em Dona Francisca, Rio Grande do Sul, e depois de ter passado alguns meses em Passo Fundo veio morar em Nonoai. Um jovem normal de seu tempo.

Padre Manuel viveu num momento conturbado da história gaúcha, e pregava a paz, o respeito, os valores cristãos. Esta pregação juntamente com suas atitudes de engajamento na vida de toda a comunidade suscitou o ódio de alguns grupos que detinham o poder. Padre Manuel realizava aquilo que a fé da Igreja apresentava como a missão do católico do mundo, por isso, a Igreja entende que a sua morte foi causada pela fé. São mártires da fé.

Foi o ódio à fé que levou esses grupos a planejar e executar a morte dessas pessoas. Em 2007 a Igreja católica reconheceu o martírio do Padre Manuel e do coroinha Adílio e os declarou beatos. Hoje eles são os padroeiros da diocese de Frederico Westphalen.

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