“Donos da Razão”

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"Temos que nos esforçar para fugir dos conflitos desnecessários e que roubam nossas energias..."

Agir racionalmente é agir sendo movido nem por um excesso nem por uma carência, ou seja, nem tanto ao céu nem tanto ao inferno. É encontrar o meio termo através da coerência e de uma certa compreensão baseada em evidências e em argumentos sólidos.

Pois o que temos visto ultimamente está longe de ser um pensamento racional, lógico ou coerente. Temos visto as pessoas apresentarem suas “próprias razões”, como se a razão fosse algo que alguém pode elaborar por conta própria.

A razão é, exatamente, uma média de pensamentos coerentes e lógicos. Uma pessoa que não possui lógica em seus pensamentos não possui razão, por mais que esbraveje e tente impor seus argumentos.

Quando dizemos que determinada pessoa tem razão é porque ela, na maioria das vezes, apresenta soluções ou avaliações coerentes o mais perto possível da justiça. Quando dizemos que uma pessoa não tem razão é reflexo de sua defesa de atitudes sem sentido e imposição de sua “verdade” falsa.

As pessoas estão sendo estimuladas a imporem a “razão” no grito, através da ameaça ou do autoritarismo, e, por isso, percebemos que quase todo mundo acha que está com a razão. Esse é um grande problema para a sociedade, pois se todos temos a razão e todos podemos dizer o que é certo e o que é errado, acabamos, cada um, criando uma convicção própria e passamos a defender “a nossa idéia” sobre qualquer assunto, sem darmos ouvido para o conhecimento científico ou histórico sobre aquele tema.

O ser humano já tem, na sua essência, a necessidade de dizer que sabe tudo e que entende de todos os temas e, agora, com o incentivo que as pessoas estão tendo para serem os “donos da razão”, a sociedade está virando uma Torre de Babel.

Se todo mundo está com a razão, com certeza ela não está sendo respeitada e a tendência é de que quando duas pessoas que são os “donos da razão” se encontrarem elas vão entrar em conflito, cada uma vai defender suas convicções “com unhas e dentes”. Esse conflito não é bom e aumenta o distanciamento social e as divergências, favorecendo um espírito de violência e de agressão.

Para sermos razoáveis e ponderados devemos, antes de tudo, conhecer o limite de nossas informações e analisar se estamos, realmente, nos instruindo em fontes confiáveis e verídicas ou se estamos sendo vítimas de uma alienação que não é
produtiva e nem equilibrada.

A busca do equilíbrio na comunicação é a busca da justiça, da coerência, do encontro de sentidos e do entendimento a partir do diálogo e do respeito. Devemos respeitar a compreensão que o outro possui da vida, mesmo que o outro esteja enganado, convertido por uma seita religiosa, fanatizado por um grupo terrorista ou intoxicado por fakenews, para podermos abrir o diálogo.

Temos que nos esforçar para fugir dos conflitos desnecessários e que roubam nossas energias, pois é tentando entender os outros que vamos encontrar alguma parcela de razão e coerência em nosso cotidiano, pacificando o espírito e buscando compreensão dos fatos a partir de uma perspectiva da justiça, da consciência e da verdade.

Felipe José dos Santos, advogado.

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