A Trindade

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Cônego Alexander Mello Jaeger

Uma das expressões mais elaboras do gênio do cristianismo é a Doutrina da Trindade. Dediquei e ainda emprego parte dos meus estudos sobre a teologia trinitária. Escrevi minha tese de mestrado sobre este tema. Fui durante muitos anos o titular da cadeira de Trindade na faculdade de teologia. É um tema fascinante pelo significado e importância que teve na construção da civilização oriental e ocidental.

A palavra trindade não se encontra na Bíblia. Ela é um conceito para explicar a presença de três personagens que se repetem constantemente nas Sagradas Escrituras: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Quem são estes Três? São três deuses ou é Deus que se apresenta de três modos diferentes? Durante séculos se aprofundou respostas até chegar a uma conclusão aproximada, Um só Deus e Três Pessoas. É o Mistério da Santíssima Trindade.

Quando a Igreja usa a palavra Mistério, ela não o faz do modo mais corriqueiro, como algo ainda não conhecido. Mistério é escrito com a letra M maiúscula e significa uma realidade na qual Deus se faz presente. Daí se dizer o Mistério da Santíssima Trindade. É impossível definir Deus, pois o que definimos podemos repetir por nossas ações, mas a teologia consegue se aproximar de explicações que são racionais e de compreensão pela inteligência. Na teologia a fé vem sempre antes da razão.

As civilizações cristãs orientais se concentraram mais no Pai e no Espírito Santo. São culturas mais contemplativas e espiritualizadas. A civilização ocidental, na qual estamos inseridos, se concentrou mais no Pai e no Filho, especialmente no Filho. O Filho de Deus se encarnou em uma natureza humana, Jesus de Nazaré, professado como Jesus Cristo. A nossa cultura criou, como consequência da teologia cristológica, a racionalidade técnica. O desenvolvimento das ciências seguiu este rumo. Mais do que contemplar a criação, o ocidente optou por entender como é a natureza e ter a capacidade de dominá-la e transformá-la.

As ciências se desenvolveram de um modo impressionante. Hoje estamos no espaço sideral e conhecemos e manipulamos as partículas atômicas e os genes. Sabemos como curar e tratar centenas de doenças físicas, mentais e psicológicas. Criamos novas substâncias e a tecnologia está no nosso dia a dia sem nos darmos conta da sua origem.

A Igreja católica tem na sua origem a ligação entre a fé e a razão. A carta de São Tiago escreve que a fé sem obras é morta e, São Pedro em sua Carta, que devemos dar razão de nossa esperança. Nesta linha a Igreja sempre incentivou e realizou uma monumental produção de conhecimentos em todas dimensões humanas e não só da fé. Criou e até hoje mantem centenas de universidades espalhadas pelo mundo, sem contar os milhares de hospitais, creches, asilos e outras organizações de serviço a população.

Hoje há um crescimento das espiritualidades de um Deus que não assumiu a condição humana. Um Deus para ser louvado e adorado, e somente isso. Um Deus que resolva os meus problemas, sem passar pela comunidade e pela sociedade. Jesus trouxe a ética cristã ao mundo que se transforma em padrões morais. Esta é uma das consequências da teologia da Santíssima Trindade.

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