Na segunda-feira (14), a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, esteve em Porto Alegre para uma audiência com movimentos sociais no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pautando a revisão da Lei de Cotas, o combate à violência política de gênero e as investigações do assassinato de sua irmã, a ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, morta em 2018. A ministra também participou de uma reunião com o governador Eduardo Leite (PSDB), no Palácio Piratini, além de um evento sobre a campanha “Julho das Pretas”, na Assembleia Legislativa (ALRS).
Na ocasião, os presentes lembraram a trajetória da irmã de Anielle com gritos de “Marielle, presente!”. No final de julho, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública confirmou que o ex-policial militar Élcio Queiroz, preso desde 2019, assinou um acordo de delação premiada em que afirma que o também ex-policial Ronnie Lessa foi responsável pelos disparos que mataram a vereadora e seu motorista, Anderson Gomes. Anielle afirmou seu papel para buscar justiça mas também reforçou quem é.
“Desde as últimas notícias do caso dela a gente tem tentando digerir ainda muita coisa que tem acontecido. Tem sido os sete meses mais longos da minha vida, e quando alguém a cita vem a memória e vem a lembrança. A Marielle tinha um sonho de fazer o doutorado, o mestrado que eu fiz era o que ela queria ter feito. E ela não consegue chegar ao doutorado. Quando eu passo no doutorado eu escutei, em uma das entrevistas do dia, ‘ah, só passou porque é a irmã da Marielle’, quando eu cheguei no ministério, ‘ah, só entrou porque é a irmã da Marielle’. E eu digo para vocês que eu sou irmã da Marielle mesmo, com muito orgulho. Só que a irmã da Marielle também tem quatro faculdades, três mestrados e doutorado”, discursou.
“Como a Mari tinha um sonho, eu também tenho um sonho. A gente tem o sonho de se manter vivos, de ter vida. Há quantos anos nosso movimento negro luta, quantas gerações já se foram, e a gente segue firme mesmo com todas as diferenças, mesmo com todas as lutas, a gente segue firme, porque não é para nós. São para as próximas gerações, não é somente sobre a minha irmã ou tantos outros que já se foram infelizmente, é por quem vem agora escrevendo esse projeto político”, completou Anielle.
Com o auditório lotado, por volta de mil pessoas acompanharam falas de representantes do movimento negro e de parlamentares gaúchos. Para a deputada federal Reginete Bispo (PT), uma das organizadoras do evento, a lotação do evento demonstrou a importância do espaço. “Quando vejo essa plenária, vejo toda a nossa ancestralidade aqui, nos dando força, nos dando energia para seguir em frente”, afirmou.
Representante do Movimento Negro Unificado, Felipe Teixeira levou à ministra reivindicações como a cobrança de uma carga horária específica para o estudo da história negra na educação básica e superior, e uma agenda de combate à violência policial. “O governo precisa ter a coragem de enfrentar a política que vem massacrando, exterminando, criminalizando nosso povo negro nas nossas perfeitas, que é enfrentar a criação de uma política da descriminalização das drogas. Senão nós somos vamos continuar sendo assassinados”, exclamou Teixeira.