Caminhando com Deus

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Cônego Alexander Mello Jaeger

No século XIV a Europa foi assolada por uma epidemia que matou uma pessoa em cada três. Foi chamada Peste Negra. A sua origem teria sido de uma guerra acontecida na Crimeia, Ásia central, trazida para a Europa pelos soldados através dos portos. Ela é causada por uma bactéria que fica nas pulgas de ratos contaminados. Como não havia higiene nem pessoal, nem nas casas e em toda a sociedade a contaminação se espalhou em todos os lugares. Os ratos andavam livremente nos palácios, nas igrejas, no comércio e nos casebres. Tudo se resolveria com higiene pessoal e saneamento básico.
Nos últimos anos enfrentamos a pandemia da Covid-19 e, em nossa região a endemia da dengue. No Brasil uma em cada trezentas pessoas morreu pelo Coronavírus. Foi alarmante e desesperador. Podemos imaginar a Europa quando uma em cada três pessoas morreram, qual foi a reação da população.

Era um tempo de muita fé em Jesus. Como é possível que Deus permite tanto sofrimento e morte? se perguntaram. Para muitos, Deus tinha abandonado a humanidade e entregue o mundo ao demônio. Como acreditar na presença real, transubstanciada de Deus na Eucaristia, se Ele tinha deixado de ser esta presença de esperança na vida? A fé em Deus começou a vacilar.

A Igreja reafirmou a sua fé na presença real de Jesus na Eucaristia e que este Deus não abandona o seu povo e caminha com ele. Por isso, a adoração que se faz à Hóstia Consagrada se transforma em uma caminhada processional pelas ruas e praças das vilas, povoados e cidades. Ao caminhar para Deus, expresso nas celebrações de adoração e louvores, se acrescenta o caminhar com Deus ou o Deus que caminha com seu povo, visivelmente encontrado nas procissões.

Deus não nos livra dos sofrimentos de um modo milagroso, sobrenatural. Isto fica muito claro quando Deus não poupa os sofrimentos e morte de seu Filho Jesus na cruz. Deus sempre vence, mas muitas vezes só no final. É o que os cristãos celebram na Páscoa da ressurreição de Jesus que antecipa a nossa ressurreição no final dos tempos. Peste negra, coronavírus, dengue e outros males é de responsabilidade pessoal e pública de serem sanadas, não de Deus.

A nossa fé diz que Jesus está presente em seu Corpo Místico, a Igreja, como escreve São Paulo. A Igreja são pessoas. Os critérios da salvação, segundo o Evangelho de São Mateus, são as ações para quem estava em situação de fragilidade e necessidade. Ali está Jesus, como na sua Palavra e Eucaristia. Neste ano a Igreja católica solicitou que se trouxesse alimentos na celebração do Corpus Christi para ajudar o Jesus que sofre nos atingidos pelas enchentes. Caminhamos com Deus que caminha conosco.

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