O Repertório Intelectual

0

“É importante perceber que o que nos torna civilizados é exatamente essa capacidade de compreender o outro….”

Professores mais esclarecidos, pais preocupados e pessoas envolvidas em políticas públicas e sociais são sempre bastante insistentes em indicar a leitura para a gurizada. “Leiam, criem o hábito da leitura de romances ou de filosofia, leiam poesia ou livros e artigos científicos, se instruam e ocupem seu tempo com conhecimento útil que construa sentido para o crescimento humano ou profissional”.

Esses conselhos, geralmente, não são bem recebidos; as prioridades são outras e estão bem longe da concentração na realidade, pois é um momento de magia e descoberta onde a vida é urgente, assim como são urgentes o prazer, a descoberta e a aventura. O entretenimento e o divertimento são prioridades evidentes e são inimigos mortais da concentração e da disciplina, algumas das armas importantes para a construção do repertório intelectual.

A leitura exige concentração e disciplina, exige o “hábito que faz o monge”, mas ela é enfadonha, solitária, trabalhosa, angustiante e, muitas vezes, incompreensível. Cada página é uma montanha a ser escalada, cada significado de uma nova palavra é um estorvo para concluir o objetivo de entender o raciocínio do escritor.  Enquanto isso, lá fora está o futebol, a novela, o cinema,  o barzinho, as amizades e a socialização, o álcool e outras drogas, a vida girando entre selfies e likes nas redes sociais.

Mas tem ainda o Wathsapp e seus intermináveis grupos e suas incansáveis piadas e memes; tem, também os jogos mais variados e as respostas para todas as perguntas. É nesse ponto que se percebe que não basta existir um instrumento que ofereça respostas, quando aqueles que possuem acesso a esse instrumento não sabem fazer as perguntas certas para construir o conhecimento. Então, hoje, temos as condições para saber mas não temos a capacidade para discernir o que queremos e o que precisamos saber, pois estamos perdendo a capacidade de comunicação.

Quando ocupamos muito tempo em distração e entretenimento, passamos a negligenciar o vocabulário e a linguagem e nossas conversas já não conseguem ser inteligíveis, nossos argumentos já não conseguem atingir a compreensão do outro e enquanto alguns falam, pensando que serão entendidos, outros não possuem condições de compreender o que foi dito.

O objetivo da linguagem é o entendimento e o desenvolvimento da capacidade de comunicação entre individualidades e se as pessoas não entendem o sentido das palavras elas diminuem sua capacidade de comunicação. Se as pessoas possuem mais vocabulário elas ampliam sua capacidade de comunicação. Ocorre que a atual geração está, comprovadamente, tendo um decréscimo em seu vocabulário, estão falando menos palavras, entendendo menos significado das palavras e tendo mais dificuldade para desenvolver um diálogo. É importante perceber que o que nos torna civilizados é exatamente essa capacidade de compreender o outro. Se perdermos essa capacidade, poderemos voltar a ser meros animais em estado de barbárie, onde a angústia da ignorância justifica a violência.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui