Os ouvidos do entendimento

"Sempre quando tentamos dizer algo que não é ouvido ou não queremos ouvir algo que nos é dito existe um duplo gasto de energia."

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Felipe José dos Santos, advogado.

É sempre delicado falar sobre alguns temas que podem ser mal-interpretados e entendidos de forma equivocada. Dependendo da forma que falamos podemos estar tentando dizer uma coisa e aquele que está ouvindo ou lendo, entender de forma muito diferente.

Essa questão referente à comunicação é estudada há muitos séculos. Vários ensinamentos surgem, na tentativa de fazer com que aquilo que se tenta dizer seja compreendido por aquele que escuta. Mas, quase sempre existe um ruído, uma diferença ou uma obscuridade, que pode criar o erro na comunicação da mensagem.

Se já é difícil a comunicação entre aqueles que “querem se entender”, imaginemos a situação mais grave, quando alguém está falando para aquela pessoa ou grupo de pessoas que não querem compreender, que já estão fechadas para o diálogo ou que imaginam que já entendem tudo sobre o assunto. Nesse caso, além de ser difícil a comunicação, há, também, um bloqueio no entendimento com a recusa da informação, do conhecimento ou do esclarecimento que uma das partes está fazendo e a outra está rejeitando.

Na realidade, isso é algo tão normal e corriqueiro que quase nos passa despercebido, pois são muitas as vezes que acontece em nossas vidas. Algumas vezes queremos falar algo que consideramos importante para ajudar uma pessoa que não está aberta para aquela informação e, em outros momentos, alguém está querendo nos informar ou alertar sobre algo e não estamos interessados em receber aquele conhecimento.

Sempre quando tentamos dizer algo que não é ouvido ou não queremos ouvir algo que nos é dito existe um duplo gasto de energia, o gasto de quem fala e o gasto de não querer escutar. Um diálogo nesses termos é o que se pode considerar como a legítima “conversa fiada”, tão popular na nossa cultura da língua portuguesa.

Lendo o livro Caibalion, um livro escrito por volta de 1900, fundamentado no Hermetismo de Hermes Trismegisto, encontrei  a frase: “Os lábios da sabedoria estão fechados, exceto para os ouvidos do entendimento”.
Lembrei de outro ditado popular, retirado do Evangelho de Mateus, que fala em “não lançar pérolas aos porcos”, como uma forma de não gastar energia e tempo com aqueles que não querem ou não conseguem absorver as informações e não estão abertos para o desenvolvimento e a evolução.

Comecei a pensar se devia, ou não, escrever sobre esse tema e se esse assunto seria interpretado, pelos leitores, como algo inútil ou como uma informação digna. Cheguei à conclusão de que depois de 30 anos escrevendo sobre diversos assuntos semelhantes, aqueles que ainda possuem interesse em ler essa coluna já são meus companheiros de jornada, aprendizado.

Na verdade somente tenho a agradecer a todos aqueles que acompanham essas reflexões  semanais e me incentivam  nessa tentativa  de aperfeiçoar o diálogo, a comunicação e a compreensão entre nós.

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