A lei da reciprocidade surgiu da observação das relações sociais, quando se constatou a necessidade que as pessoas possuem em interagir e corresponder uns com as expectativas dos outros. Assim, quando alguém faz um favor para outra pessoa, aquela pessoa que recebeu o favor acaba por ficar comprometida, mesmo que inconscientemente, a retribuir esse favor e ser gentil. Por isso o ditado que fala que “gentileza gera gentileza” e o uso da palavra “obrigado” para agradecer um favor.
Gentileza gera gentileza exatamente porque quem é gentil abre uma oportunidade para que o outro também seja, construindo uma relação crescente e produtiva. Já, por outro lado, se uma pessoa recebe favores, gentilezas ou auxílios e acaba por não agir com reciprocidade ela demonstra que não se sente “obrigada” a retribuir e, por isso, automaticamente, acaba por dar um sinal de que não faz parte da corrente altruísta, passando a ser considerado como uma pessoa que não pratica a lei da reciprocidade.
Historicamente, desde que o homem aprendeu a conviver socialmente, as sociedades sempre souberam distinguir quem é colaborativo e sabe praticar a lei da reciprocidade e quem não é colaborativo, que acaba esquecendo de doar sua parte para a coletividade.
A realidade atual vem demonstrando que os não altruístas estão sendo mais valorizados, e ser “egoísta” já não parece ser uma falha de comportamento e nem um indicativo de que aquela pessoa é um parasita de energia social, mas que aquela pessoa está certa em receber e não partilhar.
Nisso tudo pode ocorrer uma grande confusão quando as pessoas passam a se sentir injustiçadas e se considerarem mais como doadoras, julgando os outros por não atenderem à lei da reciprocidade.
Essa confusão pode acontecer em decorrência do valor que cada pessoa dá para a sua doação. Alguns doam energia, outros doam dinheiro, alguns doam cuidados e atenção e outros doam conhecimento. Quem doa energia, geralmente coloca essa doação em primeiro lugar e se recebe dinheiro em troca pode não considerar que esteja sendo recíproca a troca; mas a pessoa que doa dinheiro pode pensar, inclusive, que sua doação tem mais valor do que a do outro que doa cuidado ou conhecimento.
Se as pessoas não conseguirem entender que cada um doa o que tem e, geralmente, tem aquilo que considera mais importante, entenderiam que, de certa forma, todos fazem suas doações e geram uma certa reciprocidade para o contexto onde vivem, pois a questão não está simplesmente no tipo de doação que se faz, e sim na essência do ato de entregar aquilo que possui para trocar.
O grande problema aparece quando algumas pessoas não entregam nada de volta, quando elas se esforçam para não retribuir, nem com conhecimento, nem com energia, nem com alegria, nem com esforço ou outra forma de demonstrar reconhecimento. Esses, na história, sempre foram vistos como parasitas oportunistas ou estelionatários mas, hoje, podem estar sendo vistos e reconhecidos como exitosos especialistas em arrecadação e mestres da negativa de reciprocidade.