Vale a pena salvar a humanidade?

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Cônego Alexander Mello Jaeger

Eu gosto muito de ler. Além do tempo programado para estudo, aproveito os intervalos das atividades fazer leituras. Deste modo consigo ler muitos livros. Há poucas semanas atrás concluí a leitura de uma trilogia de ficção científica de um autor chinês chamado Cixin Liu; o primeiro livro tem como título O problema dos Três Corpos, que já se tornou uma série televisiva. A história consiste na resposta da Terra a uma mensagem de outro planeta, condenado ao desaparecimento. O resultado foi que a Terra iria ser conquistada e dominada para se tornar o novo lar destes alienígenas. Seria o fim do ser humano. A chegada dos alienígenas aconteceria somente depois de 400 anos. Os três livros tratam das reações e ações que a humanidade teve nesses 400 anos.
A partir do momento do conhecimento da ameaça a humanidade inicia a preparação da guerra contra uma civilização muito superior. Os alienígenas tem um poder tecnológico muito maior do que a humanidade e vencer é impossível no atual momento. Mesmo que se tenha quatro séculos para melhorar o conhecimento científico e tecnológico, os alienígenas também progridem, apesar de terem uma intrincada forma de vida, não igual à Terra, com longos períodos de hibernação. Durante esses 400 anos várias vezes aparecerá a pergunta se vale a pena salvar a humanidade. Esse é um dos temas que o livro se propõe a tratar.
A ficção científica tem elementos filosóficos e também teológicos. Não é possível fugir da dimensão religiosa do ser humano. A pergunta sobre o sentido da vida é respondida tanto pela filosofia como pela religião A religião é a que responde por antecipação. As respostas religiosas sobre essas questões são as mais antigas que a humanidade conhece. O conhecimento se expressava através dos mitos. A ficção científica também cria formas míticas de tratar dessas questões. A humanidade de fato merece ser salva? Não seria melhor que a Terra fosse entregue para outros seres inteligentes capazes de administrá-la de uma forma mais razoável? Hoje vemos grupos que consideram que o ser humano é o pior parasita da Terra e que o melhor seria que ele fosse eliminado. Aí vemos como as posições sobre o sentido da vida são variadas e diversas, e isto não é ficção.
A visão cristã do ser humano considera a sua existência como positiva. Deus criou a humanidade com um objetivo muito específico, ou seja, viver com Deus administrando a sua criação. Deus não criou o ser humano perfeito, mas com a possibilidade de se aperfeiçoar. Por isso cada pessoa é ao mesmo tempo Santa e pecadora, segundo a definição cristã. Santa pela sua origem, pois vem de Deus, que é Santo, e a Ele retorna. Pecadora porque nesta caminhada erra, cai e peca, mas tem a possibilidade de se corrigir. É uma visão otimista da história. Ela caminha para a perfeição, para a realização plena. Neste caminho haverá dificuldades, tropeços e quedas e, para cada uma dessas há uma oportunidade de se reerguer e retomar o caminho certo. Esta é uma visão muito esperançosa da vida humana. O ser humano pode ser salvo.
A vida tem sentido. Não é necessário se entregar para seres ou forças superiores que farão as coisas melhores do que a humanidade. Ela recebeu o mundo para administrá-lo, e deve prestar contas se está administrando bem ou mal, e corrigir o que é falho.
Como no livro é importante lutar contra a presença alienígena dominadora. Já a vida real consiste em lutar contra e vencer todas as formas de mal. Não se deve esperar uma invasão alienígena, uma intervenção externa, para que isto aconteça. Todo dia há um cerco de situações que exigem um combate, uma organização e uma capacidade de vencer o que não é bom. A Terra deve ser cuidada e o ser humano salvo. Cada um tem esta responsabilidade e no final, conquistar a vitória, porque a vida humana tem sentido.

 

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