De Olho na IdeiaPor: Felipe J. dos Santos
A última polêmica sobre as mídias sociais cria mais uma zona de divergência no Brasil e no mundo. Zuckerberg anunciou que vai “ampliar a liberdade de expressão” e, com isso, reduzir a moderação de conteúdos para as mídias sociais. Mas o que isso realmente quer dizer? Quais serão as consequências dessas medidas em grande escala? Como uma simples decisão de uma empresa como a Meta pode criar tantas interpretações e interesses?
A Meta, que vai liberar para que todos manifestem suas opiniões abertamente, independentemente de essas opiniões serem mentirosas ou criminosas, possui cerca de 3 bilhões de usuários, ou seja, um terço da população mundial.
A ideia de que a desinformação, na atualidade, está ocorrendo mais por excesso de informações distorcidas e superexposição de informações, já está sendo amplamente debatida e percebida como uma forma de controle social e de embaralhamento do jogo intelectual.
Um exemplo perfeito dessa prática foi a des/informação de que a terra era plana, que circulou há alguns anos como se fosse verdade em uma grande teoria da conspiração e muita gente, muita gente mesmo, acreditou. Alguns acreditam até hoje.
Em países com baixo nível de informação, pouca prática em leitura, desassistidos de senso crítico e com graus de nutrição e formação cultural sofríveis, essa “liberdade de expressão” acaba sendo um salvo-conduto para que a grande maioria das pessoas fragilizadas intelectualmente passem a acreditar em narrativas infantis e simplistas, se contrapondo ao conhecimento científico, histórico e secular.
Com as técnicas de persuasão atuais e a falta de resistência intelectual da maioria dos usuários de mídias sociais, se cria uma enorme fábrica de fake news. A persuasão é uma arte e uma ciência que envolve influenciar as atitudes, crenças ou comportamentos de outras pessoas. É algo presente em muitos aspectos da vida cotidiana, desde o marketing e a publicidade até a política e as relações interpessoais.
As técnicas avançadas de neurociência somadas à liberdade de des/informação podem fazer um grande estrago em uma nação, construindo narrativas discordantes e oposições intransponíveis, fundamentando litígios intermináveis e construindo argumentos tão alicerçados nas narrativas opostas que acabam criando o ódio e a divisão.
Quando um único ignorante fala alguma coisa completamente sem fundamento e se coloca contra as evidências científicas, a lógica, a construção do consenso e os exemplos da história, não há qualquer problema, pois essa pessoa que ignora pode ser convencida de seu erro e de sua postura equivocada. Por outro viés, quando bilhões de pessoas falam um absurdo em conjunto, aquele absurdo passa a ter mais valor que um argumento científico e, então, a civilização começa a correr riscos, pois a lógica, a razão e a dialética passam a ser instrumentos de segunda importância e assim começa a se instalar o caos na comunicação. Provavelmente foi isso que aconteceu com a “torre de babel”, onde todos falavam e ninguém se entendia.
Estamos vivendo uma época em que passa a não ser mais necessário possuir conhecimento ou bom senso, basta ter seguidores. Milhões de seguidores são suficientes para tornar verdadeira qualquer bobagem que um influenciador barato disser.
Estamos entrando em uma fase histórica onde a razão está sendo substituída pela persuasão e, com isso, a realidade trocada pela ilusão.
Sensação
Vento
Umidade