De Olho na IdeiaPor: Felipe J. dos Santos
A história da arte não é uma linha reta de progresso ou declínio, mas um ciclo pulsante, quase biológico — feito de fôlegos largos e retrações silenciosas. Em períodos de ebulição social, sofrimento coletivo ou transformação cultural profunda, a arte costuma emergir com força visceral, como resposta à angústia ou tentativa de transcendência. Em contrapartida, há tempos em que a arte se recolhe, sufocada por mecanismos de controle, indiferença ou banalização. Nessa dança de expansão e retração, a arte revela não apenas seu poder, mas também a temperatura afetiva e simbólica de cada época.
Períodos marcados por dor, opressão ou crise costumam ser férteis para a criação artística. Da literatura russa do século XIX à arte latino-americana nas ditaduras do século XX, a produção muitas vezes floresce onde a liberdade é ameaçada e o sentido da existência é tensionado. Nesses contextos, a arte assume o papel de testemunha, denúncia e catarse. Ela não embeleza a realidade; ela a rompe, a interroga, a reinventa. Surge como necessidade vital, não como luxo.
Por outro lado, há momentos em que a arte parece perder o fôlego. Quando a vida é colonizada pela lógica da produtividade, da velocidade e da eficiência, a arte corre o risco de ser instrumentalizada — reduzida a mercadoria, entretenimento ou vitrine ideológica. Nessas fases, ela pode parecer decorativa, desconectada, esvaziada. A coisificação dos corpos e a mecanização das relações humanas tornam o sensível supérfluo e o simbólico, dispensável. A arte, então, se silencia. Mas não desaparece.
O que torna esse movimento circular é o fato de que, mesmo em seus períodos de refluxo, a arte permanece latente — como brasa sob as cinzas. Em tempos estéreis, ela se esconde nos subterrâneos, nos gestos marginais, na contracultura. E, ao menor sinal de fresta, ela explode novamente, reinventada. A arte, portanto, é o termômetro mais preciso da alma de uma época — é o suspiro mais profundo do espírito daquele tempo.
Se a sociedade perde sua sensibilidade, a arte resseca. Mas, quando a dor exige voz ou a beleza precisa resistir, a arte volta — ela sempre volta. Essa circularidade é, talvez, o que mais aproxima a arte da realidade da vida.
Sensação
Vento
Umidade